A maioria dos casos de AIDS notificados no DF é de jovens entre 20 e 29 anos
Levantamento é dos últimos 5 anos; ‘Um dos maiores desafios é fazer jovens investirem em prevenção e tratamento precoce para não desenvolver Aids’, diz médica. Em Brasília,12 mil pessoas estão em tratamento.
Testagem HIV/Aids no DF — Foto: Breno Esaki / Secretaria de Saúde do DF
O Distrito Federal tem cerca de 12 mil pessoas com HIV (sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana) ou Aids em tratamento, segundo a Secretaria de Saúde do DF (SES-DF). Entre 2016 e 2020, a capital federal teve 526 mortes e 3.536 novos casos.
Segundo o Sistema de Informação de Agravos e Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde, 85% dos infectados no DF são homens. A maioria das pessoas vivendo com o vírus tem entre 20 e 29 anos – são 1.535 casos, ou seja, 50% do total (veja tabela abaixo).
Casos de HIV segundo sexo e faixa etária entre 2016 e 2020
Faixa etária | 2016 MASCULINO/FEMININO | 2017 | 2018 | 2019 | 2020 | Total |
10 a 14 anos | 1 criança/ adolescente | nenhum | 1 criança/ adolescente | nenhum | nenhum | 2 |
15 a 19 anos | 35 homens e 7 mulheres = 42 | 33 homens e 4 mulheres = 37 | 25 homens e 4 mulheres = 29 | 30 homens e 6 mulheres = 36 | 21 homens e 5 mulheres= 26 | 170 |
20 a 29 anos | 276 homens e 26 mulheres =302 | 317 homens e 22 mulheres =339 | 289 homens e 32 mulheres =321 | 353 homens e 24 mulheres =377 | 300 homens e 21 mulheres =321 | 1.660 |
30 a 39 anos | 153 homens e 33 mulheres =186 | 164 homens e 25 mulheres =189 | 177 homens e 32 mulheres =209 | 173 homens e 26 mulheres =199 | 164 homens e 30 mulheres = 194 | 977 |
40 a 49 anos | 64 homens e 13 mulheres =77 | 58 homens e 33 mulheres =91 | 67 homens e 25 mulheres = 92 | 86 homens e 19 mulheres = 105 | 61 homens e 27 mulheres = 88 | 453 |
50 a 59 anos | 31 homens e 14 mulheres =45 | 17 homens e 6 mulheres = 23 | 38 homens e 8 mulheres = 46 | 34 homens e 18 mulheres = 52 | 28 homens e 17 mulheres = 45 | 211 |
60 a 69 anos | 5 homens e 4 mulheres =9 | 4 homens e 2 mulheres =8 | 2 homens e 6 mulheres = 8 | 5 homens e 2 mulheres = 7 | 11 homens e 2 mulheres = 13 | 43 |
70 a 79 anos | 3 homens e 1 mulher =4 | 2 homens e 1 mulher =3 | 3 homens e 2 mulheres =5 | 2 homens | 1 homem | 15 |
80 anos ou mais | nenhum | 1 mulher | nenhum | 2 homens | 2 homens | 5 |
Total | 666 | 689 | 711 | 780 | 690 | 3.536 |
Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) – extraídos em 21/10/2021
No Dia Mundial de Luta contra Aids celebrado nesta quarta-feira (1º), um dos maiores desafios é fazer com que a população jovem invista em prevenção e procure tratamento precoce, para não contrair o vírus ou conviver com ele sem desenvolver a Aids – a forma mais grave da doença –, explica a gerente de Vigilância de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Saúde do DF, Beatriz Maciel Luz.
“Muitos jovens veem a doença como uma outra qualquer, e não enxergam o impacto como o pessoal mais velho, que sofreu na década de 1980. Com isso, eles às vezes acabam negligenciando as estratégias de prevenção”, diz a médica.
Nesta quarta-feira, a Secretaria da saúde do DF começa a campanha Dezembro Vermelho com alertas sobre o tema.
11% não sabem que tem HIV
A estimativa é que cerca de 11% da população brasileira esteja contaminada com o vírus HIV e não sabe. Em todo o país foram 41.909 novas infecções confirmadas em 2019, ano que registrou também 10.565 óbitos.
No DF, foram 690 contaminações e 96 mortes em 2020. Em 2021, foram 581 contaminações confirmadas e 76 óbitos.
“Ainda tem pessoas morrendo por conta da doença, mas porque não buscam tratamento. Para viver bem, é preciso ser detectado, não transmitir a doença e quebrar as barreiras de transmissão”, diz Beatriz Maciel.
Onde buscar tratamento no DF
Entre as opções de prevenção estão a testagem do vírus HIV e de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como sífilis e hepatite. Os hospitais públicos e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) também fornecem os medicamentos da Profilaxia Pós-Exposição (PEP), para pessoas que tiveram relações consentidas ou foram vítimas de violência sexual, além de terem sido expostos a materiais contaminados.
São 11 locais de referência no tratamento de HIV/Aids :
- Centro Especializado em Doenças Infecciosas (Cedin), antigo Hospital Dia da 508 Sul;
- Policlínicas do Lago Sul, de Ceilândia, de Taguatinga, de Planaltina, do Paranoá, de Sobradinho e do Gama;
- Ambulatórios de infectologia do Hospital de Base, do Hospital Regional de Santa Maria e de Sobradinho e do Hospital Universitário de Brasília (HUB);
- Unidades Básicas de Saúde (UBS) oferecem testes rápidos e fornecem insumos de prevenção, como preservativos e gel lubrificante;
- A rede de urgência e emergência atua no atendimento aos usuários que necessitam de Profilaxia Pós-Exposição (PEP) ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis após exposição sexual consentida, violência sexual e acidentes com materiais biológicos;
- No mezanino da Rodoviária do Plano Piloto, o Núcleo de Testagem e Aconselhamento faz testagem rápida para HIV, sífilis e hepatites virais.
18 anos com HIV
João Elias Lima, de 60 anos, e a esposa Beniz Catarina Lopes, de 61 anos, descobriram que contraíram o vírus HIV 18 anos atrás. A diagnóstico veio após João fazer exames para uma cirurgia. Desde então, os dois dizem que enfrentam o preconceito, inclusive de profissionais de saúde.
“O primeiro preconceito foi na hora de fazer um curativo no hospital e um enfermeiro não quis fazer. Ele não citou o motivo, mas meia palavra para bom entendedor, basta”, conta João Elias, que é vice-presidente da Associação Brasiliense de Combate a Aids (grupo arco-íris).
“Eles tem ideia de quem tem HIV é promíscuo e não é por aí. Até hoje as pessoas separam copos e pratos achando vão pegar o vírus. Se não fosse o preconceito, estava todo mundo na rua pedindo melhoria na saúde”, diz João.
Beniz também diz já ter passado por situações constrangedoras. Segundo ela, certa vez uma médica questionou como ela tinha sido contaminada.
“A médica simplesmente me perguntou: ‘Como você pegou?’ Eu respondi que não sabia, mas quando falei que meu marido também tinha, ela perguntou: ‘E como ainda vive com ele?'” conta Beniz.
A carga viral não é detectável no casal há mais de 10 anos, como em 93% das pessoas contaminadas no DF. João e Beniz mantém a rotina de cuidados, com consultas e exames médicos a cada 6 meses ou, pelo menos, uma vez ao ano.
Faltam profissionais de saúde
João e Beniz dizem que não falta medicação e nem preservativos na rede pública, mas que é difícil conseguir acompanhamento de profissionais como psicólogos, psiquiatras e endocrinologistas. Há quatro meses, João aguarda para fazer uma ecografia de tireóide, mas ele diz que o pedido está na central de regulação e que não há previsão para realizar o exame.
“O atendimento com infectologista também ficou escasso por conta da pandemia”, diz Beniz, que também faz parte do Movimento Nacional de Cidadãs Positivas (MNCP), que tem cerca de mil mulheres. Muitos se aposentaram ou acabaram sendo mais demandados, o que dificultou o atendimento para soropositivos.
A Secretaria de Saúde garante que unidades que oferecem o tratamento para HIV/Aids estão funcionando e atendendo normalmente. Segundo a pasta, o caso de João é “pontual”, mas a secretaria disse que vai apurar o que ocorreu na demora para a realização da ecografia de tireóide.
Cerrado News/G1